sábado, 7 de maio de 2011

OS USURPADORES

Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo, o deputado estadual Campos Machado, se irrita com os fundadores do novo PSD, sob o argumento de que o seu partido, o PTB é herdeiro da sigla. O parlamentar paulista comete a mesma heresia que atribui a Kassab. Para começo de conversa, a distância entre o PTB de Roberto Jefferson (e de Campos Machado) e o PTB de Getúlio, Danton Coelho, João Goulart, Alberto Pasqualini e Santiago Dantas, é maior do que o espaço entre o nosso planeta e a constelação de Andrômeda. Outro erro do cavalheiro é atribuir a fundação do PSD a Getúlio. É certo que, sendo criado para contrapor-se à União Democrática Nacional, que reunia seus velhos adversários, o PSD era simpático a Getúlio, mas não foi idéia sua. A iniciativa partiu de Benedito Valadares, que encarregou o intelectual mineiro Mario Casasanta de redigir o primeiro rascunho de seus estatutos e programa. Conta-se que, ao confiar a tarefa a Casasanta, o ainda governador lhe pediu que pusesse alguma coisa de comunismo no partido, porque estava na moda. O comunismo estava na moda em razão do forte desempenho da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Casasanta deu-lhe então nome de “Social Democrático”, idéia associada ao marxismo desde o fim do século 19.

O PSD se associou ao PTB a partir da segunda metade do governo Dutra, mas de forma discreta. Sendo assim, apresentou seu candidato à sucessão do Marechal, contra o próprio Vargas e o candidato da UDN, pela segunda vez, o Brigadeiro Eduardo Gomes. O postulante do PSD foi o mineiro Christiano Machado, que se destacara na Revolução de 30. O povão, no entanto, votou maciçamente em Getúlio. Foi desse episódio que surgiu o verbo “cristianizar” no léxico político brasileiro. A aliança, para valer, entre os dois partidos foi uma operação de mineiros e gaúchos, para impedir a continuação do golpe da direita, insuflado pelos norte-americanos, que levara Getúlio ao suicídio. Como ocorrera em 30, os gaúchos e os mineiros se entenderam no dia 25 de agosto, em São Borja, logo depois do sepultamento de Vargas. Oswaldo Aranha, Tancredo e Jango começaram a conversar ainda na saída do cemitério, e concluíram que era necessária uma situação de fato. Todos sabiam que Vargas pretendia lançar a candidatura de Juscelino à sua própria sucessão, no pleito do ano seguinte, 1955. A razão política recomendava colocar o povo logo nas ruas, como uma forma de neutralizar os golpistas. Os trabalhadores e as classes médias urbanas teriam que se aliar, em nome do país, e eleger Juscelino contra os golpistas, associados ao capital estrangeiro. A aliança se formalizara com a candidatura de Juscelino, governador de Minas, e Jango, que representava o Rio Grande do Sul. Mais do que um acordo entre os partidos, tratava-se da aliança histórica entre mineiros e gaúchos, os dois povos mais politizados do Brasil.

Eleito em 3 de outubro de 1955, Juscelino enfrentou e venceu a tentativa golpista do presidente Carlos Luz, substituto de Café Filho, vice de Vargas, que deixara o cargo acometido de cardiopatia moral, acovardado no Palácio do Catete. O PSD que nasce em São Paulo nada tem a ver com o PSD mineiro, que teve seus últimos momentos de glória ao eleger, em 1965, Israel Pinheiro governador de Minas e o mineiro Francisco Negrão de Lima governador da Guanabara. Foi essa dupla vitória do PSD que levou a ditadura a impor o bipartidarismo, com a extinção dos velhos partidos e a criação da Arena e do MDB.

A sigla do PTB deveria ser de Brizola, o grande líder sobrevivente da agremiação fundada por Getúlio. Outros dela se apoderaram, o que levou o bravo gaúcho a fundar o PDT, a que se filiaria a presidente Dilma Roussef, antes de optar pelo PT.

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