Multiplicam-se, nas últimas semanas, na imprensa brasileira e na internacional, os ataques ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
As críticas, atribuídas aos mesmos “economistas” de sempre, a anônimos “analistas”, ou a fontes genéricas do “mercado”, entidades famosas por falharem, persistentemente, nos últimos anos, em suas previsões – notadamente sobre o desempenho do governo em quesitos como o superávit comercial e o combate à inflação – acusam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de realizar operações “polêmicas”, e de baixo ou lento “retorno”, citando, entre outros, os casos da MARFRIG e da BR FOODS.
Insidiosamente, essas vozes alegam estar se levantando em defesa do “interesse público”, já que essas intervenções seriam “concentradoras”, e estariam ameaçando a concorrência e aumentando os preços para o consumidor.
Tenho insistido, aqui, e em outros espaços, que desde a instalação da Companhia das Índias, e de suas irmãs e congêneres, que impuseram, a ferro e fogo, o “livre comércio” do Ocidente a meio mundo, com o sutil uso de balas de canhão, do saqueio, de incêndios e de decapitações como meio de persuasão – vide as Guerras do Ópio, por exemplo - que a livre concorrência é um mito que deveria figurar, ao lado das galinhas que botam ovos de ouro, dos unicórnios, do Lobo Mau e do Chapeuzinho Vermelho, nas páginas dos contos de fada escritos pelos Irmãos Grimm, Andersen, Perrault e La Fontaine.
Não existiu guerra no mundo, desde a invenção do machado de pedra, que não tenha sido iniciada por interesses econômicos, na conquista de novos mercados, de mão-de-obra barata – para a captura de escravos – ou de matérias-primas.
O “mercado” e suas mãos – visíveis ou não – move-se segundo o interesse do mais forte, e, em um grau acima, segundo os interesses nacionais dos países que têm, ou pretendem ter influência, em um mercado global cada vez mais acirradamente competitivo, do ponto de vista estratégico e geopolítico.
A China está a caminho de converter-se, em poucos anos, na maior potência do mundo, graças não às suas instituições de regulação da “concorrência”, mas à presença maciça do estado na economia, através de instituições de coordenação e de fomento como o BNDES.
Lá, como em outros países, inclusive ocidentais, o estado assegura preços justos para os cidadãos sentando-se à mesa da diretoria das grandes empresas e fazendo valer o seu voto, e não através de agências reguladoras que, – como acontece no Brasil - defendem os interesses das grandes empresas, muitas vezes majoritariamente estrangeiras, contra o consumidor nacional.
É uma piada falar de livre concorrência num país no qual empresas oriundas de países que eram medievais e agrários até a década de 1970, como Portugal e Espanha, ou que agora estão quebrados, como a Itália, adquiriram o controle de nosso mercado de telecomunicações não por sua competência na produção de bacalhau, azeitonas ou spaghetti, mas sim graças ao acesso a dinheiro barato, subsidiado direta e indiretamente por seus respectivos governos, e por bancos de fomento europeus do tipo do BNDES.
E no qual, esse é o caso do Brasil, a população paga - até mesmo por causa dessas privatizações - as tarifas mais altas do mundo de telefonia celular e internet banda larga, segundo pesquisa da União Geral de Telecomunicações.
Por mais que desagrade ao “mercado”, aos governos estrangeiros e às multinacionais, o Brasil continuará a contar, no futuro, com um dos maiores bancos de fomento do mundo, com um orçamento três vezes maior do que o do Banco Mundial.
Não sendo banco de varejo, mas um instrumento de desenvolvimento e de projeção do poder nacional no mercado interno e no resto do mundo, o BNDES pode, eventualmente, não apresentar lucro em uma ou outra operação, desde que esta seja estratégica a médio ou longo prazo para o País.
Esse é o preço de assegurar a presença do Estado em áreas em que é importante contar com grandes “players” nos mercados internacionais.
Ou nas quais onde não se pode simplesmente entregar de mão beijada nosso mercado interno a grandes “players” concorrentes, que são direta ou indiretamente controlados pelo interesse estrangeiro ou multinacional.
A diferença entre o mundo de faz-de-conta dos “agentes” do “mercado” que se dedicam a ludibriar quem ainda acredita no Super-Homem e no Papai Noel, e o mundo real, concreto, do Século XXI, é a mesma que existe entre as mentiras da “livre concorrência” propugnada e defendida pelo mundo ocidental - marcadamente os Estados Unidos e os países centrais da Europa - que sempre intervieio descaradamente na economia ao longo do século XX, e a “realpolitik” chinesa dos dias atuais.
A China sabe que participar diretamente de grandes empresas, criadas pela fusão de empresas menores – com o apoio de bancos e instituições de fomento - é essencial para assegurar a sinergia e a escala necessárias a assegurar o acesso, pela sua população, a maior do planeta, a serviços, mercadorias e alimentos a preço justo.
Assim como sabe que uma presença forte do Estado da Economia, através de bancos de fomento e em parceria com a iniciativa privada nacional, é essencial para assegurar - via operações coordenadas de empresas da mesma cadeia produtiva - a competitividade de suas mercadorias nos mercados globais, a expansão de suas exportações e de suas reservas internacionais, que já passam de 5 trilhões de dólares, e a aquisição de empresas e de fontes de matéria-prima no exterior.
O segredo do sucesso chinês se deve ao fato de que, na China, a sociedade e o governo dão mais atenção aos estrategistas do que aos “economistas”.
Ou aos “analistas” e ao “mercado”, que tanto espaço ocupam no Brasil em certos meios de comunicação, e que, como todo mundo sabe, na maioria das vezes só abrem a boca para defender seus próprios interesses ou o de seus patrões.
Para assegurar sua presença no mundo, e defender seus consumidores, o Brasil precisa de mais empresas como a MARFRIG, GERDAU, AMBEV, EMBRAER, PETROBRAS, VALE, BRASKEM, que contem – se necessário - com o apoio do Estado ou uma ponderável presença estatal em sua composição acionária.
E de novos players de grande porte, como uma AMAZONBRAS, para explorar o minério, a energia, a madeira e a biodiversidade amazônica, nos moldes do que foi a TVA, a TENNESSEE VALLEY AUTHORITY,
Se as fábricas de armamento na Espanha e na França pertencem ao Estado, se o Governo norte-americano controla, através da AMTRAK, o transporte ferroviário de passageiros, se autoridades da China e do Japão tem uma forte presença na economia, por que o Brasil não pode fazer o mesmo?
O Governo brasileiro precisa deixar de ser refém do “mercado” na hora de definir um projeto de longo prazo para o fortalecimento do país no Século XXI.
Neste novo tempo, a única forma de assegurar a manutenção de setores estratégicos em mãos nacionais é a presença do Estado na economia.
Quem defende - como é o caso dos nossos aeroportos – o retorno das privatizações pode estar certo de que tudo o que for vendido agora será “re-estatizado” no futuro.
Não pelo governo brasileiro, mas por camaradas do Partido Comunista Chinês vestidos de ternos Armani, que desembarcarão, nesses mesmos aeroportos, com bilhões de dólares, em um futuro próximo, para comprar dos europeus e norte-americanos que estão virtualmente quebrados e de seus testas de ferro do “mercado” brasileiro, as empresas e os setores que foram vendidos nos anos 1990 e os que vierem a ser privatizados a partir de agora.
Nunca é demais reiterar o alerta, especialmente dedicado a quem tiver dificuldade de fazer um curso intensivo de mandarim até 2014: a sociedade brasileira não pode se deixar enganar pelo canto das cassandras.
A defesa do fortalecimento institucional e financeiro do BNDES será mais que necessária, fundamental, agora e no futuro, para assegurar a sua consolidação como um instrumento imprescindível para nossa sobrevivência nacional nos próximos anos.
Este texto foi publicado também nos seguintes sites:
http://wwwterrordonordeste.blogspot.com/2011/08/o-bndes-e-o-futuro-do-brasil.html
http://gilsonsampaio.blogspot.com/2011/08/os-ataques-ao-bndes-e-o-futuro-do.html
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